quinta-feira, 28 de abril de 2011

Atu 0 – O Louco

Louco 

O Louco, o charlatão, o bobo da corte é também o nosso querido palhaço, aquele que ao nos fazer rir impulsiona a humanidade na direção de sua evolução. O palhaço é uma classe especial de homem, pois há de se ter talento para fazer rir e refletir ao mesmo tempo. Devo aqui repetir uma frase que certa vez utilizaram para elogiar o maior palhaço do século XX, Sir Charles Chaplin, que diz o seguinte: “O palhaço é aquele que ao saltar de um trampolim se elevou tão alto que ultrapassou as nuvens e todos os limites humanos, e atingiu as estrelas”.

O nosso palhaço é aquele que consegue realmente tocar as estrelas, que vê tudo a distância, com claridade e humildade. Ao fazer isso, ele nos traduz sua visão através de uma experiência mais profunda. Ao fazer isso, ele se comporta como o diabo, o anti herói, que ri e nos faz rir de nosso dia a dia, das nossas maselas, dos nossos sonhos humanos... É o único que consegue e que tem a nossa autorização para falar a verdade, de nos questionar. Assim como o diabo, ele ri de nós e nos convida a rir com ele, mas quem consegue rir de si mesmo? Quem consegue rir de suas próprias desgraças? Quem consegue rir de suas tolas conquistas? O palhaço é aquele que também consegue rir de seus mais profundos fracassos, daí o motivo de ser realmente engraçado. Só não ri quem está morto para toda e qualquer forma de verdade. Só não ri quem não é verdadeiramente livre.

O Louco é o que rompe com as fronteiras do tempo e das limitações. É o primeiro que rompe por terras desconhecidas e poucos são aqueles que teem a coragem de segui-lo. Segui-lo é deixar para trás um estranho e velho mundo moribundo, no qual nos acostumamos a andar como animais selvagens enjaulados. Segui-lo é reunir todas as nossas últimas coragens e arriscar uma nova vida ou uma velha morte.

Todo Louco é um solitário. Todo Louco é um Santo. Todo Louco é um embriagado de Amor. Todo Louco está morto para os olhos daqueles que não o entendem como tal. Todo Louco transcendeu sua masculinidade e sua feminilidade, ele é completo! Todo Louco é Inocente. Todo Louco é uma Criança e uma Besta...

A Besta e a Criança

O Diabo ri de maneira contida, quase imperceptível. O palhaço ri de maneira escrachada, sem dúvida. Um está rindo do mundo; o outro de si mesmo. Algumas vezes é difícil saber quem é um e quem é o outro, mas ambos são similares em essência. Durante certo tempo na história, o riso foi acorrentado da mesma maneira como as pessoas eram pelos seus senhores seculares e religiosos, mas é impossível deter o riso, o prazer, a alegria... A alegria é o princípio de toda liberdade. Não existe amor sem alegria. Não existe vida sem liberdade. Não existe luz sem o palhaço...

Devo contar, portanto, algo que descobri ao longo destas linhas: é o Louco quem nos insere na vida, da mesma maneira que o Diabo nos insere em nós mesmos. Por isso ambos estão rindo, nos convidando a sermos como seu macaquinho. Somos os seus aprendizes no final das contas. Adquirimos ao longo de nosso treinamento no picadeiro, a termos “o ponto” certo para o humor, para dizermos a verdade ao longo da piada.

Devemos aprender a rir, a rir de nossas virtudes e de nossos vícios. O riso nos mantém lúcido no momento da coroação de nossos objetivos. É o que mantém nossos pés fincados na realidade quando tudo à volta é insanidade.

O Louco é visto pelo velho mundo como um charlatão, um demônio, mas, em verdade, ele não passa de uma simples Criança, brincando com seu bichinho de estimação em seu jardim. O Louco em toda sua Verdade é um Solitário, um quase abandonado, mas se existe realmente uma Luz, esta emana dele...

Louco2

Quem é verdadeiramente este Louco? Leiam e estudem Liber Tzaddi vel Hamus Hermeticvs, Liber Cheth vel Vallum Abiegni… Invoquem cada célula de vossos corpos para direção deste Caminho… Como diz o Liber Cordis Cincti Serpente, Capítulo IV, Versículos 54 à 61:

Este meu coração está cingido com a serpente que devora seus próprios anéis da cauda.

Quando haverá um fim, ó meu querido, ó quando serão o Universo e o Senhor deste completamente engolidos?

Não! quem devorará o infinito? Quem desfará o Erro do Princípio?

“Tu gritas como um gato branco no telhado do Universo; existe nenhum para te responder.

“Tu és como um solitário pilar no meio do mar; nenhum existe para Te ver, ó Tu, que vês tudo!

“Tu esmoreces, tu falhas, tu, escriba; gritou a desolada Voz; mas Eu te enchi com um vinho cujo sabor tu não conheces.

“Ele servirá para embriagar o povo da velha esfera cinzenta que rola no infinitamente Longe; eles lamberão o vinho como cães que lambem o sangue de uma linda cortesã trespassada pela Lança de um veloz cavaleiro que atravessa a cidade.

“Eu também sou a Alma do deserto; Tu deves buscar-me novamente ainda na solidão da areia.”

Benção e Veneração à Besta, o Profeta da Amorável Estrela.

Um comentário:

  1. "a velha morte" é pior do que a putrefação - do lodo ao lótus... do vazio à vida!!!...
    Parabéns pelo texto, obrigada!

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